Gosto muito do Giannetti, acho o seu livro Auto-engano demais, jà começei à lir o ultimo este mix entre romance e ciencia. Acho ele virtuoso no conhecimento scientifico um pouco menos como escritor de romance mas o livro merece uma olha como reflexao contemporanea sobre à alma (brasileira!)
POR ESTADAO
O economista Eduardo Giannetti fala sobre seu novo livro, engajamento na campanha de Marina Silva e o futuro do País.
Gilberto de Almeida
O economista Eduardo Giannetti não gosta de tarefas fáceis. Aos 53 anos, ele remexe em seu baú e resgata seu novo livro, A Ilusão da Alma, um tema sobre o qual tratou há 23 anos durante sua tese de doutorado na Universidade de Cambridge: a relação entre o cérebro e a mente. Qual dos dois responde por nossas atitudes e decisões? Giannetti não propõem resposta definitiva. Quer apenas que o leitor passe a refletir mais sobre a condição humana. Narrado na primeira pessoa, o romance conta a história de um professor de literatura que retirou um tumor cerebral. A partir dali, começa a questionar sobre a verdadeira função da mente. ''O homem pensa que está no controle, quando está sendo controlado'', diz.
Ele pede também alguns minutos de reflexão sobre a maré de prosperidade econômica do Brasil. Como consultor econômico da candidata Marina Silva, do PV, à Presidência da República, Giannetti lembra que o País já viveu momentos de bonança econômica durante o período JK e que ao longo dos governos militares, não soube aproveitar para resolver problemas mais graves. E agora, será diferente?, questiona o professor do Insper (ex-Ibmec). A seguir, os principais trechos da sua entrevista.
Como nasceu a ideia do livro?
Tudo começou quando defendi meu doutorado na Inglaterra, em 1987, e em um gesto ousado resolvi incluir na minha tese de economia um capítulo sobre o fisicalismo (técnica que procura explicar o comportamento humano a partir do funcionamento do cérebro). Fiz uma comparação entre o Homem Máquina e o Homem Econômico. Isso causou estranheza na banca e quase perdi a minha tese. Felizmente consegui defendê-la e sabia que um dia iria retomar o assunto. De uns tempos para cá, surgiu a neuroeconomia, que é um novo ramo da economia e que tenta entender o comportamento humano olhando diretamente para o funcionamento do cérebro. Por que alguns esbanjam tanto dinheiro e outros preferem poupar? Existe uma explicação neurológica por trás de cada comportamento humano? Foi aí que resolvi parar e fazer um balanço sobre a relação entre o cérebro e a mente.
Qual é a relação direta do livro com a realidade?
Isso ganha evidência com as técnicas de visualização do corpo humano, pois já é possível observar o nosso cérebro durante os diversos estados mentais. Teremos, em breve, avanços no estudo de doenças como Alzheimer, Parkinson e epilepsia. Vamos conseguir também que pessoas voltem a enxergar com o uso de retina artificial. É um caminho que permite grandes avanços da ciência.
A neuroeconomia já está presente no nosso dia a dia?
Um exemplo curioso é quando colocamos um consumidor em uma máquina de ressonância magnética, enquanto ele escolhe se irá ou não comprar um item. Observando as áreas do cérebro que são mais ativadas durante o estímulo, o pesquisador é capaz de detectar com antecedência, se ele vai ou não adquirir aquele bem. Isso já esta escrito no cérebro, antes que a própria pessoa tenha consciência da sua decisão. Mostra que somos muito diferentes do que imaginamos, tornando-nos veneráveis à manipulação.
Qual a sua percepção sobre a realidade econômica do Brasil?
O País está num momento de confiança e otimismo como há muito não se via. Mas o risco é a complacência. Imaginar que os ventos estão a favor não significa que os problemas estejam resolvidos. Eu tenho lembrado, em minhas palestras, que em décadas passadas o Brasil já esteve condenado à prosperidade, como durante o desenvolvimentismo de JK ou ao longo do milagre econômico do regime militar. No entanto, não tivemos capacidade para resolver as nossas dificuldades mais graves. É nesse momento em que todos estão encantados com o potencial brasileiro que devemos tirar proveito com inteligência. Será que teremos maturidade para resolver os reais problemas? Para mim os dois principais são: capital humano e sustentabilidade.
Foi isso que o levou a optar pela candidatura da Marina Silva?
Eu nunca me engajei em política, sequer declarei o meu voto. Mas encontrei muita afinidade nas ideias da Marina. Quero viver em um País que tenha uma liderança forte, que represente uma corrente relevante no século 21. Eu tenho brincado que o Brasil precisa de um JK do capital humano. E acho que a Marina pode representar esse papel.
Qual o problema do Brasil que mais chama sua atenção?
O País ainda não acordou para a gravidade da nossa deficiência de capital humano. Quando o aluno brasileiro do ensino médio participa do principal teste comparativo de avaliação internacional - o Pisa, conduzido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - e fica em 54º lugar entre 57 países, isso alarma. Quer mais um? Cerca de 53% do eleitorado em 2010 não tem o ensino fundamental completo. Enquanto não tivermos capital humano de qualidade, não podemos considerar que o País chegou ao século 21.
Qual a sua avaliação sobre a imagem do Brasil no exterior?
Existe um interesse extraordinário no País como opção de investimento, até porque o resto do mundo está muito complicado. O Brasil teve méritos, conquistou esta posição e passou muito bem pela crise. Só que nós precisamos continuar a melhorar, pois esses investidores podem mudar de ideia e correr para outra direção. Esse sucesso nos dá chance de enfrentar e resolver questões fundamentais. É necessário tirar proveito disso de uma maneira inteligente.
A crise global foi superada?
Não. A crise não teve o mesmo porte da vivida nos anos 30, mas ainda não terminou. O risco que começa a preocupar agora é que os EUA e a Europa não entrem na mesma síndrome do Japão dos anos 90, de recessão e deflação. Se eles entrarem em quadro deflacionário, essa crise mudará de patamar. Se tornará muito mais preocupante do que foi imaginada nos últimos meses.
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